quarta-feira, 23 de março de 2011

SURDEZ

a.            Surdez
A língua oral é o principal meio pelo qual os seres humanos se comunicam e é através da audição que nós, desde pequenos, adquirimos a capacidade de aprendizagem e conceitos necessários para convivermos em sociedade, como por exemplo, a leitura e a escrita, que são indispensáveis para as relações entre pessoas e também para o próprio desenvolvimento intelectual, cultural e social do indivíduo.
Como podemos observar no parágrafo anterior, a audição é, sem dúvida, um sentido muito importante para que um indivíduo se desenvolva, cultural, intelectual e socialmente, no entanto, existem pessoas que nascem sem esse privilégio, ou seja, a sua capacidade auditiva é comprometida parcial ou totalmente, sendo assim definidas como pessoas surdas.
Mas o que é a surdez? Quais os tipos? Quais as causas? Estas entre outras perguntas serão respondidas neste capítulo.
Primeiro, vamos à definição de surdez.
Na Legislação Brasileira, no Decreto Lei nº 5.626 de 22 de dezembro de 2005 sancionada pelo nosso então Presidente Luís Inácio Lula da Silva, que em seu artigo segundo definiu surdez da seguinte forma:
Art.2º Para os fins desse Decreto considera-se pessoa surda àquela que, por ter perda auditiva, compreende e interage com o mundo por meio de experiências visuais, manifestando sua cultura principalmente pelo uso da Lingua Brasileira de Sinais – LIBRAS.
Parágrafo único. Considera-se deficiência auditiva as perdas bilatérias, parciais ou totais, de quarenta e um decibéis (dB) ou mais, aferida por audiograma nas freqüências de 500 Hz, 1.000 Hz, 2.000 Hz e 3.000 Hz.

No entanto, ao longo dos tempos essa definição/conceito de surdez passou por muitas transformações, vários pontos de vista, teorias e valores.
Podemos identificar então, depois de toda essa evolução dois grandes pontos de vista. Um mais tradicional e conservador que considera a pessoa surda como um portador de necessidades especiais e o outro mais moderno, que considera o indivíduo surdo como uma pessoa com diferença lingüística.
Depois de tantas transformações no decorrer do tempo, temos, portanto a definição de surdez, deficiência auditiva ou deficiência da áudio-comunicação como sendo a diminuição da habilidade normal para a detecção sonora de acordo com os padrões estabelecidos pela American National Standards Institute (ANSI, 1989).
Mas como seria descrita uma pessoa surda:
  • É a pessoa que vivencia um déficit de audição;
  • É impedida de adquirir, de modo natural, a língua oral/auditiva;
  • Constrói sua identidade calcada principalmente nesta diferença;
  • Utiliza-se de estratégias cognitivas e de manifestações comportamentais e culturais diferentes dos ouvintes.
  • A pessoa com surdez não é diferente apenas por que não ouve, mas também porque desenvolve potencialidades psico-culturais diferentes das dos ouvintes.



b.         Causas da Surdez
A deficiência auditiva é caracterizada como um problema sensorial não visível, que acarreta dificuldades na detecção e percepção dos sons e que, devido à natureza complexa do ser humano, traz sérias conseqüências ao indivíduo.
Na infância, quando é detectado qualquer distúrbio auditivo, a criança fica comprometida quanto a seu desenvolvimento como um todo, nos aspectos cognitivos, sociais e culturais; além do comprometimento dos aspectos lingüístico, pois, quando uma criança nasce com dificuldades de ouvir, ela não toma consciência dos sons do meio em que ela está relacionada, nem dos sons que ela própria emite, prejudicando de forma acentuada a sua capacidade lingüística, além da sua capacidade de se relacionar com crianças ouvintes.
Vejamos então a seguir algumas causas que levam uma criança a adquirir surdez:
Ø  Alguns indicadores de risco para neonatos (28 dias) – histórico de deficiencia congênita na família:
·           Infecção congênita (sífilis, toxoplasmose, rubéola, citomegalovirus e herpes);
·           Meningite bacteriana;
·           Anomalias craniofaciais (malformações de pavilhão auricular, meato acústico externo, ausência de filtrum nasal, implantação baixa da raiz do cabelo).
Estudos revelam que a rubéola e a meningite são as principais causas da deficiência auditiva nas crianças.
A rubéola não é importante pela mortalidade materna e sim pelas lesões causadas no feto e na fase puerperal podem causar malformações, abortamento, prematuridade, óbito fetal e várias seqüelas orgânicas no recém nascido.

Ø  Indicadores de risco para utilização em bebês (de 29 dias até dois anos de idade):
·         Meningite bacteriana e outras infecções associadas à perda auditiva neurossensorial (A meningite é responsável por 6% a 40% das deficiências auditivas neurossensoriais adquiridas que ocorrem na população com idade escolar);
·         Otite média persistente ou recorrente com secreção durante pelo menos três meses;
·         Trauma craniano associado à perda da consciência ou fratura do crânio.
Ø  Crianças que necessitam de monitoramento audiológico periódico (de 29 dias até três anos de idade)
·           Histórico familiar de perda auditiva na infância;
·           Infecções congênitas: citomegalovirus, rubéola, sífilis (pode-se manifestar a qualquer momento, dentro dos seis primeiros anos de vida da criança, além de poder surgir e progredir com grande rapidez, causando a atrofia do órgão de Corti e severa degeneração das fibras do nervo coclear), herpes ou toxoplasmose (é considerada uma das mais comuns infecções ocorridas no ser humano, com impressionante diferença de ocorrência entre países, e algumas mães não percebem que estão com a infecção durante a gestação; nos Estados Unidos a incidência é de 1 a cada 750 crianças);;
·           Otite média persistente ou recorrente com efusão;
·           Deformidades anatômicas e outros distúrbios que afetam a tuba auditiva.
  No Brasil a maior causa de surdez nas crianças é a rubéola congênita, hereditariedade, baixo peso ao nascer e fatores genéticos.
Ø  Algumas outras causas da surdez nas crianças:
·         Os Bebês podem adquirir surdez, se houver problema durante o parto;
·         Parto pré ou pós naturidade ou até mesmo infecção hospitalar pode causar surdez;
·         Se for exposta excessivamente a ruídos e a sons muito altos (ex. encubadora);
·         Traumatismo craniano;
Ø  Causas pré-natais:
·         Desordens genéticas ou hereditárias;
·         Relativas à consangüinidade;
·         Relativas ao fator RH;
·         Drogas e alcoolismo materno;
·         Desnutrição / subnutrição / carências alimentares;
·         Pressão alta;
·         Diabetes;
·         Exposição à radiação, etc.

c.             Tipos de Deficiência Auditiva

Ø  Deficiência auditiva condutiva
Qualquer interferência na transmissão do som desde o conduto auditivo externo até o ouvido interno (cóclea). Causada por uma alteração que ocorre na orelha externa (meato acústico) e/ou média (membrana timpânica, cadeia ossicular, janelas oval e redonda e tuba auditiva). Na avaliação audiológica básica, os liminares tonais por via aérea estão alterados, enquanto por via óssea encontram-se normais[1], o ouvido interno tem capacidade de funcionamento normal, mas não é estimulada pela vibração sonora.
Essa estimulação poderá ocorrer com o aumento da intensidade do estímulo sonoro. A maioria das deficiências auditivas condutivas pode ser corrigida por meio de tratamento clínico ou cirúrgico.
Nesse tipo de perda auditiva o índice de reconhecimento de fala está em torno de 100% de acertos[2].

Ø  Deficiência auditiva sensório-neural
Ocorre quando há uma impossibilidade de recepção do som por lesão das células ciliadas da cóclea ou do nervo auditivo. Causadas por alterações que afetam a cóclea e/ou nervo auditivo, as causas que levam a esse tipo de perda são múltiplas e de difícil diagnóstico. Na avaliação audiológica básica, podemos observar liminares auditivos por via aérea e óssea alterados e equivalentes[3].
Os limiares por condução óssea e por condução aérea, alterados, são aproximadamente iguais. A diferenciação entre as lesões das células ciliadas da cóclea e do nervo auditivo só pode ser feita por métodos especiais de avaliação auditiva. O índice de reconhecimento de fala encontra-se alterado, e pior será quanto maior for a perda auditiva. Esse tipo de deficiência auditiva é irreversível[4].

Ø  Deficiência auditiva mista
São perdas auditivas que apresentam características condutivas e neurossensoriais. Ocorre quando há uma alteração na condução do som até o órgão terminal sensorial associada à lesão do órgão sensorial ou do nervo auditivo.
O audiograma mostra geralmente liminares de condução óssea abaixo dos níveis normais, embora com comprometimento menos intenso do que nos limiares de condução aérea.
Os resultados do índice de reconhecimento de fala são bons, porém prejudicados em relação à audição normal ou à perda condutiva, pela presença do componente neurossensorial[5].

Ø  Deficiência auditiva central, disfunção auditiva central ou surdez central 

Esse tipo de deficiência auditiva não é, necessariamente, acompanhado de diminuição da sensitividade auditiva, mas manifesta-se por diferentes graus de dificuldade na compreensão das informações sonoras. Decorre de alterações nos mecanismos de processamento da informação sonora no tronco cerebral (sistema nervoso central)
d.           Graus de perda e classificação
Essa classificação é baseada na medida dos limiares das freqüências de 500, 1000 e 2000Hz. Com base neste cálculo, devem-se comparar os resultados com os descritos a seguir:
Ø  Surdez leve
Perda auditiva entre 26 a 40 dB. Essa perda impede que o indivíduo perceba igualmente todos os fonemas da palavra. Além disso, a voz fraca ou distante não é ouvida. Essa perda auditiva não impede a aquisição da linguagem, mas poderá ser a causa de alguns problemas articulatórios ou dificuldade na leitura e/ou escrita.

Ø  Surdez Moderada
Perda auditiva entre 41 e 70 dB. Esses limites se encontram no nível de percepção da palavra, sendo necessário uma voz de certa intensidade para que seja convenientemente percebida. São freqüentes o atraso da linguagem e as alterações articulatórias, havendo, em alguns casos, maiores problemas lingüísticos. Em geral, o indivíduo identifica as palavras mais significativas e tem dificuldade em compreender certos termos de relação e/ou frases gramaticais complexas. Sua compreensão verbal está intimamente ligada a sua aptidão para a percepção visual.

Ø  Surdez severa
Perda auditiva entre 71 e 90 dB. Esse tipo de perda vai permitir que o individuo identifique alguns ruídos familiares e poderá perceber apenas a voz forte, podendo chegar aos 4 ou 5 anos sem aprender a falar. Se a família estiver bem orientada pela área educacional, a criança surda poderá chegar a adquirir a linguagem. A compreensão verbal vai depender, em grande parte, de aptidão para utilizar a percepção visual e para observar o contexto das situações.

Ø  Surdez profunda
Perda auditiva acima de 90 dB. A gravidade dessa perda e tal que o priva das informações auditivas necessárias para perceber e identificar a voz humana, impedindo-o de adquirir naturalmente a linguagem oral. As perturbações da função auditiva estão ligadas tanto à estrutura acústica quanto à identificação simbólica da linguagem.

As crianças que nascem com deficiência auditiva severa ou profunda são as que sofrem mais e, na maioria das circunstâncias, apresentam uma defasagem significativa no progresso educacional tendo grande dificuldade de aprendizagem. Isso ocorre porque a deficiência auditiva interfere na capacidade de percepção de fala da criança, o que, por sua vez, pode resultar na deficiência do desenvolvimento da fala e da linguagem, na redução do aproveitamento escolar e em distúrbios no comportamento social e emocional.
Quanto maior for a perda auditiva, maiores serão os problemas lingüísticos, e maior será o tempo em que o indivíduo precisará receber atendimento especializado.
Devido ao fato do desenvolvimento lingüístico depender, em grande parte, do canal sensorial auditivo, uma redução ou eliminação desse canal reduz drasticamente a capacidade de aprender a fala e a linguagem.
Mesmo as crianças com perda auditiva somente em um ouvido ou com perdas auditivas moderadas nos dois podem ter dificuldades no desenvolvimento da fala e da linguagem, no reconhecimento da fala em condições adversas de escuta, no aproveitamento escolar e no comportamento psicossocial (BESS; HUMES, 1998).


e.             Nomenclatura na área de surdez
No final dos anos 80, a expressão que faz referência às pessoas com algum tipo de necessidade especial é “portador de deficiência”. Em nossa constituição federal de 1988, o uso da expressão só é justificado em função de que um conceito de deficiência era herança da medicina. A terminologia “portadores de deficiência” nos remete a um Brasil excludente que tratava os seus doentes, deficientes ou não, como “portadores de alguma moléstia infecciosa”. Esses enfoques clínicos mantiveram-se até a Constituição Federal de 1988.
A lei que define as Diretrizes e Bases da Educação Nacional – LDBEN, Lei 9.394, de 20 de dezembro de 1996, apresenta uma reformulação terminológica em que o termo “portadores de deficiência” é substituído por “pessoas com necessidades educacionais especiais”.
No plano pessoal, a decisão quanto a usar o termo “pessoa com deficiência auditiva”, ou os termos “pessoa surda” e “surda”, fica por conta de cada pessoa. Geralmente, pessoas com perda parcial da audição referem-se a si mesmas como tendo uma deficiência auditiva. Já as que tem perda total da audição preferem ser consideradas surda.
Passamos então a analisar e definir algumas nomenclaturas na área da surdez:
Ø  Deficiente Auditivo
Termo técnico usado na área da saúde e, algumas vezes, em textos legais. Refere-se a uma perda sensorial auditiva. Não designa o grupo cultural dos surdos.
O termo deficiente auditivo é utilizado para denominar as pessoas que apresentam uma perda sensorial auditiva, geralmente, o termo não é utilizado pelo grupo que pertence à comunidade surda.
Ø  Surdo-mudo
Esse termo, provavelmente, é o mais antigo e incorreto atribuído à pessoa surda. O fato da pessoa ser surda não significa que ela seja muda, uma vez que a mudez é um outro tipo de deficiência.
Esse termo não é utilizado pelo grupo que pertence à comunidade surda, pois mudez é a impossibilidade de falar ou problemas relacionados à emissão da voz (órgão fono-articulatório)

Ø  Deficiência Auditiva
Tecnicamente, considera-se que a deficiência auditiva é a “perda parcial ou total bilateral, de 25 (vinte e cinco) decibéis (dB) ou mais, resultante da média aritmética do audiograma, aferida nas freqüências de 500Hz, 1.000Hz, 2.000Hz e 3.000Hz” (art. 3, resolução n. 17, de 08 de outubro de 2003, do conselho Nacional dos Direitos da Pessoa Portadora de Deficiência – CONADE.).
Essa resolução alterou o artigo a do Decreto nº 3.298/99, por causa do “inadequado dimensionamento das deficiências auditiva e visual”, estabelecido neste Decreto nº 5.296, de 02/12/2004, alterou o art. 4 do citado decreto nº 3.298, passando de 25 decibéis para 41 decibéis, obedecendo a Resolução do CONADE, como podemos ver a seguir:
















Bibliografia

Disponível em: < www.dicionariolibras.com.br> Acesso em 10/10/2007
Disponível em: <www.vibraudicao.hpr.ig.com.br/oralismo> Acesso em 10/10/2007
BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil. 1988.
SILVA, Ivani Rodrigues, e outros. Cidadania, Surdez e LinguagemDesafios e Realidades. São Paulo, Ed. Plexus, 2003.





[1] SILVA, Ivani Rodrigues, e outros. Cidadania, Surdez e Linguagem – Desafios e Realidades. São Paulo, Ed. Plexus, 2003, pag. 36.
[2] SILVA, Ivani Rodrigues, e outros. Cidadania, Surdez e Linguagem – Desafios e Realidades. São Paulo, Ed. Plexus, 2003, pag. 36.
[3] SILVA, Ivani Rodrigues, e outros. Cidadania, Surdez e Linguagem – Desafios e Realidades. São Paulo, Ed. Plexus, 2003, pag. 36.
[4] SILVA, Ivani Rodrigues, e outros. Cidadania, Surdez e Linguagem – Desafios e Realidades. São Paulo, Ed. Plexus, 2003, pag. 36.
[5] SILVA, Ivani Rodrigues, e outros. Cidadania, Surdez e Linguagem – Desafios e Realidades. São Paulo, Ed. Plexus, 2003, pag. 36.

Surdez, Cultura e Comunicação



a.     Diagnóstico
A deficiência auditiva é caracterizada como um problema sensorial não visível, que acarreta dificuldades na detecção e percepção dos sons e que, devido à natureza complexa do ser humano, traz sérias conseqüências ao indivíduo. A presença de qualquer alteração auditiva na primeira infância compromete o desenvolvimento da criança como um todo, nos aspectos cognitivos, sociais e culturais; além de comprometer os aspectos linguísticos, pois existe um período crítico para a aquisição de uma língua (Sclair-Cabral, 1988) [1].
Estudos comprovam que o período que se estende entre o nascimento e os seis primeiros meses de vida da criança é o mais afetivo para a estimulação do cérebro e para a formação das vias auditivas. Assim, a detecção precoce da deficiência auditiva torna-se imprescindível, uma vez que com essa precocidade pode-se começar o mais rápido possível os procedimentos terapêuticos, aumentando assim a probabilidade de se aproveitar ao máximo o potencial de linguagem expressiva e receptiva, de alfabetização, do desempenho acadêmico e do desenvolvimento social e emocional das crianças com deficiência auditiva.
O único procedimento capaz de identificar precocemente as alterações auditivas, a fim de que, nos casos positivos, sejam realizados os encaminhamentos necessários ou para intervenção médica ou para programas de habilitação é a Triagem Auditiva Neonatal de rotina, indispensável para a saúde da mamãe e do bebê.
Logo após o diagnóstico da surdez, os pais são encaminhados para o programa de habilitação. A família precisa de orientações sobre seu papel no desenvolvimento da linguagem e das habilidades auditivas da criança, bem como sobre a função dos profissionais da habilitação e da educação de surdos. Isso é fundamental, pois os pais são as primeiras pessoas a estabelecerem uma linguagem com a criança. No caso da criança surda, é necessário que os pais sejam conscientes da sua importância na educação de seu filho.[2]
Em geral, os pais recusam-se a acreditar no diagnóstico, especialmente porque, no caso da surdez, não há uma evidência visível (Luterman, 1979). Quando lhes é apresentada a necessidade de habilitação a longo prazo, alguns pais podem se tornar muito hostis para com os profissionais que diagnosticaram a surdez, já que também não vão poder efetuar a cura. Outros pais se mostram muito práticos e complacentes, assumindo prontamente todas as etapas de habilitação recomendadas. As reações dos pais variam de acordo com a sua experiência de vida, educação, fatores socioeconômicos, culturais e religiosos e, naturalmente, suas personalidades.[3]
Quando os pais descobrem a deficiência em seus filhos, precisam de um programa de habilitação completo.
Um programa de habilitação completo é aquele que responde às necessidades das crianças e de suas famílias. Os pais necessitam de informações sobre surdez, além de discussões extensivas sobre como se processa o desenvolvimento da linguagem. O esclarecimento dos papéis dos pais e dos profissionais é essencial. É evidente que os pais são as melhores pessoas para ajudar diretamente a criança, por ser o desenvolvimento de linguagem um processo que surge da relação entre eles, que ocorre em situações contextualizadas, no dia-a-dia. Os fonoaudiólogos têm uma atuação restrita nas sessões clínicas semanais. Portanto, os pais precisam ser encorajados a aceitar seu papel principal na habilitação da criança.[4]
A criança surda precisa e deve ter a oportunidade de interação com crianças que usam a fala como meio de comunicação. A exposição à língua oral deve ocorrer de forma freqüente, envolvendo sempre situações contextualizadas, que acompanhem o desenvolvimento cognitivo. Deve ser estimulada a produção de fonemas, palavras e frases e a compreensão da fala pela leitura orofacial.
Os pais não podem apenas se prender ao tempo que a criança passa no fonoaudiólogo, pois, este período apenas não é suficiente para que a criança se desenvolva, sendo de grande importância o tempo que ela passa em casa junto à família, em contato com os seus familiares para que este contato venha a fazer diferença em seu desenvolvimento na linguagem. Por isso, a presença e participação dos pais são de grande importância para o desenvolvimento da criança.
No CEPRE, o trabalho com crianças surdas envolve, primeiro o aprendizado da LIBRAS como base para a aquisição da língua oral.

Ø  Adaptação das próteses auditivas
Trata-se de um processo bastante complexo que vai ocorrer durante a habilitação da criança. A escolha da potência das próteses auditivas depende do grau e do tipo da perda auditiva. Elas possuem componentes que captam as vibrações de onda sonora e as transformam em sinais elétricos. São miniamplificadores, não substituem a função do ouvido.[5]
Se a perda auditiva for severa ou profunda, a criança terá condições, com as próteses, de perceber os componentes acústicos da fala. Se a perda for moderada ou leve, a criança vai ser capaz de ouvir sons como as vogais e consoantes mais graves do tipo: m, d, b, etc. A dificuldade maior será para ouvir os sons fricativos do tipo: f, v, s, z, etc.[6]

Ø  O trabalho auditivo
O trabalho com as habilidades auditivas possibilita à criança fazer o maior uso possível desse resíduo auditivo. Se não for adequado, essa audição utilizável se torna inútil. Ninguém a não ser a família, em casa, pode propiciar a constante prática em ouvir, o constante ambiente sonoro que é essencial.[7]
Mais uma vez podemos observar a importância dos pais e dos familiares que estão ao redor da criança, para propiciar o bom desenvolvimento desta, ou seja, os pais devem sempre em seu dia-a-dia, trabalhar na percepção auditiva da criança de várias maneiras, como por exemplo, a utilização de brinquedos que produzam sons, batidas na porta, campainha, liquidificador, panela de pressão, batedeira de bolo, rádio, televisão, descarga do banheiro, ruídos de objetos que caem, martelo batendo prego na parede, dentro outros inúmeros sons.
Os pais devem sempre levar a criança para realizar passeios, falar sempre próximo ao microfone da prótese ou de frente para ela para que o som seja favorecido, também se deve usar bastante expressão facial, chamando a criança sempre pelo nome, principalmente sendo estimulada com a voz do pai por ser um som mais grave.
 Vamos verificar abaixo alguns métodos para avaliação audiológica:

Ø  Audiometria de tronco Encefálico ( BERA ou ABR)
Método eletrofisiológico, objetivo, não invasivo que vem assumindo um papel importante na audiologia clinica, na medida em que os potenciais sensoriais evocados estão cada vez mais sendo empregados no diagnóstico diferencial, na estimativa da sensibilidade auditiva, na triagem auditiva em neonatos e no monitoramento intra-operatório.
Consiste no registro da atividade bioelétrica desencadeada por um estímulo sonoro ao longo da via auditiva até o tronco encefálico, para isso, é utilizado um aparelho eletrônico composto por um computador mediador, gerador de sinal acústico, amplificador e registrador, esse estimulo é apresentado por meios de fones. Utiliza-se eletrodos de superfície conectados no couro cabeludo e mastóide ou lóbulo da orelha, permitindo assim, a captação da atividade proveniente das estruturas que compõem a via auditiva.
As principais aplicações da audiometria de tronco encefálico incluem a testagem da função auditiva em neonatos e em crianças difíceis de serem avaliadas por procedimentos audiológicos de rotina; mensuração objetiva da audição em adultos para fins diagnósticos e legais; avaliação da maturação do sistema auditivo central em crianças; detenção de tumores do nervo acústico; diagnóstico eletrofisiológico topográfico de patologias que afetem a fossa posterior, além da avaliação do grau de coma e morte encefálica[8].

Ø  Emissões Otoacústicas
O primeiro pesquisador que observou as emissões otoacústicas foi Kemp (1978). Ele verificou uma liberação de energia sonora na cóclea, que se propaga para a orelha média, até alcançar o meato acústico externo.esse teste tem o objetivo detectar a ocorrência da perda auditiva, visto que as emissões otoacústicas estão presentes em todas as orelhas funcionalmente normais e deixam de ser observadas quanto os limiares auditivos se encontram acima de 20 a 30 dB NA[9].
Existem dois tipos de emissões otoacústicas: as emissões espontâneas e as evocadas. As primeiras são estímulos tonais que naturalmente são emitidos pela cóclea na ausência de estimulação acústica. São detectadas em uma ou mais freqüências discretas em aproximadamente 70% das orelhas normais, não se tornou um teste clínico útil. O segundo tipo, clinicamente está agrupado em duas formas, com base no tipo de estímulo que é utilizado para medi-las: as emissões transientes (EOAT) e as emissões otoacústicas por produto de distorção (EOAPD). As transientes são aquelas eliciadas por estímulos breves como cliques. Estão presentes em todas as orelhas de indivíduos com audição normal. De modo geral, em adultos, os níveis de EOATS são maiores, ao redor de 1 a 2 KHz, e diminuem tanto nas freqüências altas como nas baixas. As emissões otoacústicas por produto de distorção (EOAPD) são evocadas por dois tons puros de longa duração apresentados simultaneamente com freqüências diferentes, porém relacionadas. A maior EOAPD ocorre na freqüência de 2F1-F2, em orelhas normais[10].
Essas emissões são medidas objetivas, podendo ser utilizadas em pacientes difíceis de serem testados, pacientes incapazes de se comunicar, ou que pouco colaboram. O procedimento é rápido e preciso, já que é controlado por um computador, além disso existe um pequeno tempo de preparação do paciente, pois não é um teste invasivo e as emissões estão presentes em todas as orelhas normais.

b.    Aspectos Culturais dos Surdos
Cultura surda é o jeito de o sujeito surdo entender o mundo e de modificá-lo a fim de torná-lo acessível e habitável ajustando-os com as suas percepções visuais, que contribuem para a definição das identidades surdas e das “almas” das comunidades surdas. Isto significa que abrange a língua, as idéias, as crenças, os costumes e os hábitos de povo surdo.[11]
[...] As identidades surdas são construídas dentro das representações possíveis da cultura surda, elas moldam-se de acordo com o menor ou maior receptividade cultural assumida pelo sujeito. E dentro dessa receptividade cultural, também surge aquela luta política ou consciência oposicional pela qual o indivíduo representa a si mesmo, se defende da homogeneização, dos aspectos que tornam corpo menos habitável, da sensação de invalidez, de inclusão entre os deficientes, de menosvalia social. (PERLIN, 2004. P. 77-78)[12]
A cultura surda exprime valores, crenças que, muitas vezes, se originaram e foram transmitidas pelos sujeitos surdos de geração passada ou de seus líderes surdos bem sucedidos, através das associações de surdos. Infelizmente, elas não são procuradas pela família, que procuram a escola primeiro, porque elas oferecem aos surdos o modelo ouvinte próximo, isto é, “normais”, perante a sociedade ouvinista.[13]
[...] Os pais, entretanto, estão numa fase de crise e é pouco provável que sejam críticos relativamente àquele ponto de vista. Se o profissional descrevesse a comunidade dos surdos, tal descrição seria em termos tão concisos que na realidade os pais não veriam uma alternativa para o estatuto e destino da sua criança. O especialista profissional e os pais, partilham, geralmente, a mesma cultura dos ouvintes[...]. (LANE, 1992, p.38).[14]
Ao afirmarmos que os surdos brasileiros são membros de uma cultura surda não significa que todas as pessoas surdas no mundo compartilhem a mesma cultura simplesmente porque elas não ouvem. Os surdos brasileiros são membros da cultura surda brasileira da mesma forma que os surdos americanos são membros da cultura surda norte-americana. Esses grupos usam línguas de sinais diferentes, compartilham experiências diferentes e possuem diferentes experiências de vida. (KARNOPP, 2006, P. 99).[15]
Ø  Língua de Sinais
Ø  Expressão facial
Ø  Expressão corporal
Ø  Toque
Ø  Sensibilidade Visual
Ø  Olfato mais desenvolvido
Ø  Voz ou Problemas de entonação de voz


c.      Comunicação entre ouvintes e pessoas com surdez
Não é correto dizer que alguém é surdo-mudo. Muitas pessoas surdas não falam porque não aprenderam a falar. Muitas fazem a leitura labial, e podem fazer muitos sons com a garganta, ao rir, e mesmo ao gestualizar. Além disso, sua comunicação envolve todo o seu espaço, através da expressão facial-corporal, ou seja o uso da face, mãos, e braços, visto que, a forma de expressão visual-espacial é sobretudo importante em sua língua natural.
Falar de maneira clara, pronunciando bem as palavras, sem exageros, usando a velocidade normal, a não ser que ela peça para falar mais devagar.
Usar um tom normal de voz, a não ser que peçam para falar mais alto. Gritar nunca adianta.
Falar diretamente com a pessoa, não de lado ou atrás dela.
Fazer com que a boca esteja bem visível. Gesticular ou segurar algo em frente à boca torna impossível a leitura labial. Usar bigode também atrapalha.
Quando falar com uma pessoa surda, tentar ficar num lugar iluminado. Evitar ficar contra a luz (de uma janela, por exemplo), pois isso dificulta a visão do rosto.
Se souber alguma língua de sinais, tentar usá-la. Se a pessoa surda tiver dificuldade em entender, avisará. De modo geral, as tentativas são apreciadas e estimuladas.
Ser expressivo ao falar. Como as pessoas surdas não podem ouvir mudanças sutis de tom de voz, que indicam sentimentos de alegria, tristeza, sarcasmo ou seriedade, as expressões faciais, os gestos ou sinais e o movimento do corpo são excelentes indicações do que se quer dizer.
A conversar, manter sempre contato visual, se desviar o olhar, a pessoa surda pode achar que a conversa terminou.
Nem sempre a pessoa surda tem uma boa dicção. Se houver dificuldade em compreender o que ela diz, pedir para que repita. Geralmente, os surdos não se incomodam de repetir quantas vezes for preciso para que sejam entendidas.
Se for necessário, comunicar-se através de bilhetes. O importante é se comunicar. O método não é tão importante.
Quando o surdo estiver acompanhado de um intérprete, dirigir-se a ele, não ao intérprete.
Alguns preferem a comunicação escrita, alguns usam linguagem em código e outros preferem códigos próprios. Estes métodos podem ser lentos, requerem paciência e concentração.
Em suma, os surdos são pessoas que têm os mesmos direitos, os mesmos sentimentos, os mesmos receios, os mesmos sonhos, assim como todos. Se ocorrer alguma situação embaraçosa, uma boa dose de delicadeza, sinceridade e bom humor nunca falham.

ALFABETO MANUAL

Fonte: Dicionário de LIBRAS (http://www.dicionariolibras.com.br/)


Bibliografia

Disponível em: < www.dicionariolibras.com.br> Acesso em 10/10/2007
Disponível em: <www.vibraudicao.hpr.ig.com.br/oralismo> Acesso em 10/10/2007
KARNOPP, Lodenir. Literatura surda.In: Literatura, Letramento e Práticas Educacionais – Grupo de Estudos Surdos e Educação. ETD – Educação Temática Digital, Campinas, v.7, n.2, p. 98-109, jun. 2006 – ISSN: 1676-2592.
LANE, Harlan. A máscara da benevolência: a comunidade surda amordaçada. Lisboa: Instituto Piaget, 1992.

PERLIN, Gladis. O lugar da cultura surda. In: THOMA, Adriana da Silva; LOPES, Maura Corcini (Org), A Invenção da surdez: cultura, alteridade, identidade e diferença no campo da educação, Santa Cruz do Sul, Ed. EDUNISC, 2004.

SILVA, Ivani Rodrigues, e outros. Cidadania, Surdez e LinguagemDesafios e Realidades. São Paulo, Ed. Plexus, 2003.
STROBEL, Karin. As imagens do outro sobre a cultura surda. Florianópolis, Ed. Da UFSC, 2008, Pag. 26.


[1] SILVA, Ivani Rodrigues, e outros. Cidadania, Surdez e Linguagem – Desafios e Realidades. São Paulo, Ed. Plexus, 2003, pag. 17.

[2] SILVA, Ivani Rodrigues, e outros. Cidadania, Surdez e Linguagem – Desafios e Realidades. São Paulo, Ed. Plexus, 2003, pags. 42 e 43.
[3] SILVA, Ivani Rodrigues, e outros. Cidadania, Surdez e Linguagem – Desafios e Realidades. São Paulo, Ed. Plexus, 2003, pag. 43.
[4] SILVA, Ivani Rodrigues, e outros. Cidadania, Surdez e Linguagem – Desafios e Realidades. São Paulo, Ed. Plexus, 2003, pags. 43 e 44.
[5] SILVA, Ivani Rodrigues, e outros. Cidadania, Surdez e Linguagem – Desafios e Realidades. São Paulo, Ed. Plexus, 2003, pag. 44.
[6] SILVA, Ivani Rodrigues, e outros. Cidadania, Surdez e Linguagem – Desafios e Realidades. São Paulo, Ed. Plexus, 2003, pag. 44.
[7] SILVA, Ivani Rodrigues, e outros. Cidadania, Surdez e Linguagem – Desafios e Realidades. São Paulo, Ed. Plexus, 2003, pag. 45.
[8] SILVA, Ivani Rodrigues, e outros. Cidadania, Surdez e Linguagem – Desafios e Realidades. São Paulo, Ed. Plexus, 2003, pag. 26.
[9] SILVA, Ivani Rodrigues, e outros. Cidadania, Surdez e Linguagem – Desafios e Realidades. São Paulo, Ed. Plexus, 2003, pag. 26.
[10] SILVA, Ivani Rodrigues, e outros. Cidadania, Surdez e Linguagem – Desafios e Realidades. São Paulo, Ed. Plexus, 2003, pags. 26 e 27.
[11] STROBEL, Karin. As imagens do outro sobre a cultura surda. Florianópolis, Ed. Da UFSC, 2008, Pag. 24.
[12] PERLIN, Gladis. O lugar da cultura surda. In: THOMA, Adriana da Silva; LOPES, Maura Corcini (Org), A Invenção da surdez: cultura, alteridade, identidade e diferença no campo da educação, Santa Cruz do Sul, Ed. EDUNISC, 2004.
[13] STROBEL, Karin. As imagens do outro sobre a cultura surda. Florianópolis, Ed. Da UFSC, 2008, Pag. 26.
[14] LANE, Harlan. A máscara da benevolência: a comunidade surda amordaçada. Lisboa: Instituto Piaget, 1992.
[15] KARNOPP, Lodenir. Literatura surda.In: Literatura, Letramento e Práticas Educacionais – Grupo de Estudos Surdos e Educação. ETD – Educação Temática Digital, Campinas, v.7, n.2, p. 98-109, jun. 2006 – ISSN: 1676-2592